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Palmeirenses de 2012, trago notícias do futuro

  • Foto do escritor: Ocupa Palestra
    Ocupa Palestra
  • 12 de nov. de 2022
  • 5 min de leitura

Por Matheus Pichonelli Uma, duas, talvez cem mil.


Não sei dizer quantas vezes vi e revi o primeiro gol do Palmeiras, o gol do empate, contra o Athletico Paranaense, naquela terça-feira (25) estranha, sem transmissão na TV a cabo, pela 35ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2022. Foi aquele o jogo que transformou a conquista do hendeca num caminho sem volta.


Vi e revi o lance e ainda não sei dizer quem empurrou aquela bola para a rede. Foi o Endrick? Foi o Scarpa?


Na súmula o gol entrou para a história como o primeiro do mais jovem atleta a marcar com a camisa do Palmeiras. Mas a súmula, com os devidos créditos, tirados no par ou ímpar, não dá conta de descrever o que aconteceu ao pé da trave da Arena da Baixada.


Aquele gol é de autoria dupla e não poderia ser de outra maneira o início da trajetória de Endrick pelo Palmeiras.


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Endrick e Scarpa estavam na mesma bola. Um veio da ponta, outro corria ao centro. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço, diz a lei da física; mas futebol é outra coisa.


Por centímetros um não tirou o gol do outro. Mas o toque em conjunto produziu algo que pouca gente notou. Produziu um intervalo no espaço e no tempo que fundiu passado, presente e futuro no mesmo lance.


O presente estava no pé de Gustavo Scarpa, em contagem regressiva em seus minutos finais de sua passagem (a primeira?) pelo Palmeiras.


E deixou de ser futuro quando Endrick saiu como doido comemorando a conquista não de um gol, mas de um novo tempo.


Scarpa comandou a equipe durante boa parte do campeonato.


O gol em conjunto tinha uma mensagem ao fundo: “agora é com você, garoto”.


No lance seguinte, o garoto fez finalmente seu primeiro gol solo. O gol do título, o suficiente para fazer o Palmeiras campeão sem entrar em campo pelo resto do campeonato, graças ao tropeço do Inter na rodada seguinte, contra o América-MG, poucas horas antes do embate contra o Fortaleza, uma batalha transformada em festa e goleada por 4 a 0 no Allianz Parque.


Mas antes da festa havia a tensão, e ela só foi distendida numa bola dividida em Curitiba.


O desenho da jogada do gol de empate na Arena da Baixada é o desenho de uma história que se encerrava para dar lugar a outra.


Ninguém, a não ser um menino de 16 anos, se lançaria ao chão como Endrick para buscar uma bola aparentemente perdida.


Em parte porque um menino como ele não tem ideia do limite do próprio corpo ou do espaço onde se projeta. Em parte porque nunca terá tanta noção como agora.


O assombro era tal que Endrick ficou com a bola sem precisar fazer contato. Ele não roubou a bola de Cuello. Ela foi sugada por pensamento. Foi adquirida por direito. Mas antes de chegar até o gol ela ainda prestaria um último tributo. Um tributo ao passado. Antes de chegar ao gol a bola passou por Dudu, o futuro promissor quando apresentado, num chapéu improvável, como reforço em 2015.


Dudu, o único remanescente do ressurgimento de uma nação naquele ano-síntese, é o presente ainda em construção. E dele, num rebote, passado, presente e futuro abriram as comportas para Endrick numa bola dividida e cantaram: o novo sempre vem.


Dez anos antes, em 2012, a explosão de um mundo repleto de possibilidades parecia irrefreável.


Poucas vezes senti tanta alegria por um título como na Copa do Brasil de 2012. Foi também numa noite estranha de Curitiba, dessa vez no Couto Pereira, que vimos um gol debutante em uma história que começava e também se encerrava. O gol de Betinho era o que tinha pra ontem e ele não foi suficiente para dar o empurrão necessário para deter a queda na banguela da Série A do Brasileiro.


Um dia após o rebaixamento, vi uma multidão sair às ruas com a camisa do Palmeiras. Entendi, então, o que era esperança.


Em dez anos, vi nascer meu filho, morrer meus avós, vi um país inteiro desaparecer e ressurgir. Vi o Palmeiras cair pela segunda vez, vi o arquirrival ganhar o mundo, e aprendi a assistir jogo, até então uma experiência solitária, na companhia de uma criança, a quem agora me cabe socorrer nos (por sorte agora raros) momentos de tristeza e derrota.


O Campeonato Brasileiro de 2022 foi o primeiro que assistimos juntos do começo ao fim.


O silêncio que antes habitava ao meu redor era condição inegociável para sobreviver a uma partida como a virada contra o São Paulo no Morumbi, por 2 a 1. Ou à vitória magra, com um jogador a menos, contra o Santos, gol do Merentiel. Ou aos segundos intermináveis até a bola do Juninho, do América Mineiro, mudar a trajetória embaixo da trave e morrer longe do gol.


E silêncio é tudo o que não tenho mais em casa desde que meu filho decidiu que o único modo de suportar 90 minutos de sufoco é fazendo barulho, correndo pela casa batendo bola, imitando um narrador, com uma cachorra alucinada por perto querendo sua parte na bagunça.


Tem horas que eu penso que não vou sobreviver àquela zona –justo agora que que o time mais se mostra organizado em campo. Mas sobrevivo. Sobrevivemos.


De 2012 pra cá, ganhamos e perdemos um pouco de tudo. Envelhecemos. As manias que pareciam calcificadas foram aos poucos detonadas pelos novos componentes em campo e fora dele.


Minha parte conectada ao passado, dos meus bisavós até meus pais, é também uma bola dividida com meu filho, minha ideia de presente e continuidade.


Em 2002 a pessoa que fui um dia viu o time ser rebaixado pela primeira vez. A outra pessoa que me tornei e que já não habita em mim reviveu os dez anos do feito, em 2012, com um novo rebaixamento.


Vinte anos depois ainda cato os resquícios de passado, presente e futuro numa bola dividida de crédito confuso. Quem, afinal, marcou o gol que encaminhou o título em 2022? Endrick ou Scarpa? Quem se não os dois?


A dupla viveria outros momentos até o fim de um campeonato já ganho. Na última cena, contra o América-MG, Scarpa saiu de campo aplaudido, premiado com um gol de pênalti, o último diante de sua torcida.


O jogo estava empatado e não tinha torcedor ali que não pensasse “e agora, quem é que vai botar essa bola na cabeça dos atacantes e dos zagueiros-artilheiros?”.


Pois a resposta veio pouco depois. Coube a Gabriel Menino, outra leva de um futuro promissor, ainda que aos solavancos, incorporar o espírito que seguia em campo e improvisar um cruzamento com pé esquerdo, como se fosse seu pé bom, na cabeça do Murilo para a virada.


Scarpa, já fora do campo, aplaudiu.


Era como se a jogada para o empate no Morumbi, contra o São Paulo, se refizesse, mas com o pé trocado.


Ali passado, presente e futuro também se fundiam.


Nossos garotos pegaram a bola e correram com ela. Agora é com eles.


Vai ser difícil agora fazer de cada escanteio uma faca cruzando os olhos dos rivais como fez Scarpa ao longo de toda a temporada. Mas vamos ficar bem. Já estamos. O gol do Murilo fala por isso.


Tem sido assim desde 2012. Desde 1914.

7 comentários


chenyi smart
chenyi smart
14 de out.

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chenyi smart
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14 de out.

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chenyi smart
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14 de out.

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chenyi smart
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14 de out.

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chenyi smart
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14 de out.

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